segunda-feira, 17 de novembro de 2025

 O grito

Não sei ao certo, alguns vem do cérebro e

descem para garganta.

Outros sobem do coração, mas também

param na garganta.

De repente , você olha para o espelho do

banheiro

Diz alguma coisa para aquela pessoa que te olha,

Mas não tem resposta.

As palavras batem no vidro e escorregam

para o ralo da pia.

Só resta a frustração de ser observado

por uma pessoa de outra dimensão,

Também presa atrás do vidro.

Então você nota que ela solta um grito mudo.

O vidro se estilhaça, misturando

atmosferas seculares.

Então vem a luz

Luz da liberdade

E o seu som

É doce!


quinta-feira, 13 de novembro de 2025

 Quintais

Ainda ontem eu me vi com os braços abertos 

para trás, imitando asas.

Correndo a toda velocidade com o ventre dobrado 

pela rua de terra, em frente de casa!

O vento batia delicioso em meus cabelos, em

meu rosto, na minha alma.

No meu quintal, tinha mato, flores baldias, entulho e alegria.

O varal, o retrato da simplicidade, nossos tesouros eram

colocados ali para secar.

Brincávamos de fazenda, embaixo da velha ameixeira, cercas

e casas eram feitos de terra e gravetos.

Gravetos estes que davam vida ao nosso rebanho de chuchus,

ganhando pernas, chifres e rabos.

Esse local também era usado para acrobacias nos galhos,

E, por sua sombra generosa, os campeonatos de bolinhas

de gude eram feitos ali.

Não tinha biroca difícil pra nós!

Quando juntava muito moleque virava uma bagunça.

Era moleque pendurado na árvore, correndo, jogando bolinha...

Uma algazarra, barulho, muito barulho de alegria, de felicidade!

Na casa dos vizinhos, e na rua, também era assim:

De tardezinha, a mãe chamava para tomar banho, de bacia é claro.

A única coisa que ainda se mantinha limpa era o branco dos olhos!

O resto, pés, pescoço, tudo grosso de terra e sujeira.

Nem vou falar da água que ficava na bacia depois do banho.

Saiamos do banho parecendo crianças novamente.

Teve paixão também,

A libido despertara cedo na pobre criança.

Num dia chuvoso, com os instintos de caçador à flor da pele,

estava caçando um filhote de pardal, impossível de pegar 

entre os tijolos.

Foi quando apareceu minha linda vizinha, e o pegou para o

garotinho atrapalhado.

Sensacional e humilhante!

Já era apaixonado, mas esse pequeno ato selou de vez toda a

afeição e vergonha que se possa ter por uma pessoa.

Foi minha musa, Áurea, a primeira de todas as paixões.

Me peguei tendo essas lembranças hoje,

refleti bastante sobre isso tudo.

Saí para o meu pequeno quintal, coloquei os braços abertos

para trás, dobrei o abdômen e dei alguns passos.

Então veio o vento e tocou minha alma.

















segunda-feira, 6 de maio de 2024

Número um


Ele abriu a porta do quarto bruscamente e ganhou com isso a visão mais medonha que uma pessoa poderia presenciar.


A criatura, com orelhas de chacal, pele cinza e rugosa, desprovida de pelos, com mais de dois metros de altura, parecia estar desmembrando uma pessoa como se fosse um boneco.


Ao lado disso, tinha uma mulher totalmente nua, branca como cera, parecia estar segura por alguma coisa, pois seus pés não tocavam o chão.


Deu a impressão de estar se divertindo muito e não parava de sorrir. Quando viu o intruso, chamou-o com gestos. Foi quando o intruso olhou o papel de parede e viu que não era o seu quarto, o dele tinha motivos de pássaros e aquele era de rosas vermelhas com fundo preto.


Fechou a porta rapidamente e saiu correndo dali, já duvidando da sua sanidade. 


Também, estava bêbado e um pouco drogado, a festinha havia sido ótima.


Estando hospedado na casa de um político, bebidas e drogas corriam soltas, tudo de graça!


Conseguiu o convite através de um amigo que estava no mesmo quarto que ele.


Quando chegou no próprio quarto, fechou a porta rapidamente com o coração saindo pela boca, mas a única coisa que conseguiu foi vomitar mesmo, acordando o colega.


Que foi? - Perguntou o amigo.


Então, ficou um tempão explicando o acontecido  para o sonolento e não menos bêbado amigo que atendia pelo nome de João, e o nosso xereta era Paulo.


Depois de ouvir Paulo, João o tranquilizou dizendo que casa de gente rica era assim mesmo, coisas estranhas aconteciam, mas sem polícia e sem vizinho chato.


Melhor era ir dormir e no outro dia continuar aproveitando as benesses do lugar.


Enfim amanheceu, dia maravilhoso, tudo calmo, não faltava ninguém para alívio de Paulo.


O lugar era um sítio lindo, com piscina, lagos, quadras de esporte, animais, etc...


Tudo estava perfeito e Paulo já se convencia que tinha exagerado mesmo nas drogas.


Só uma coisa destoou da paz da manhã!


Apareceu um furgão fechado bem velho com um motorista mais velho ainda, que discutia acaloradamente com o gerente do sítio.


Paulo quis ir ver o que estava acontecendo, mas um dos seguranças o impediu, dizendo que não era nada, só um animal que morreu durante a noite e iria ser descartado, os hospedes não podiam se meter nesses assuntos ,que era melhor ele continuar a se divertir.


Foi então que Paulo ficou muito cismado e começou a se questionar o que  realmente viu na outra noite, tinha que ter uma resposta de tudo aquilo.


Então do nada apareceu a mulher...

domingo, 9 de abril de 2023

Gota.

 Meu orgulho, minha dignidade, foram-se.

Não me lembro mais de que eu era feito.

A dor invadiu todo o meu ser, fazendo dele sua morada.

Me transformando com suas pinças titânicas em um punhadinho

de carne e ossos.

Que de alguma forma  ainda respira e vive, mas rasteja! 

sábado, 27 de agosto de 2022

Eu sou o vento.

 Eu sou a contradição sem pudor.

O errado feito do modo certo.

Sou a míngua de barriga cheia.

Sou a secura dos olhos antes da lágrima.

Sou a cabeça pendurada na sala de estar.

Sou a joia guardada na caixinha, junto com o camafeu que

não vale nada.

Sou o trigo do pão que ninguém vai comer.

Não me queiram bem, não me queiram mal, eu sou só aquele que 

anda de quarto em quarto, assustando as pessoas que tem medo do escuro!

Eu sou o vento!

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Taio.

 Me perdoa por ainda pensar em ti.

Ainda estou vivendo o tempo das feridas abertas.

Queria estar no das cicatrizes.

Perdoa, perdoa, maldita!

terça-feira, 7 de junho de 2022

Estranho amor.

Conforme eu caminho em você minha mente se turva, meus passos

se atrapalham, e eu me vejo preso em seus caprichos novamente!

Você é como o céu, e eu não sou nada.

Como sair do labirinto do seu amor, se como brumas me envolvem.

Estou perdido num paraíso de fogo.

Existe um lago, existe um barco, mas eu não quero fugir.

Quero ser um escravo eterno desse vulcão que cuspe lava e pedras.

Nem que as sombras me levem ao abismo da montanha, ainda assim, eu 

ficarei contigo.

Mas existe também um caminho de flores amarelas, que sou eu.

Que ama, que é seguro, que pode voar junto com você!

Mesmo que as nuvens não sejam favoráveis, acima delas o céu ainda é azul.

A solidão não me assusta, mas prefiro ficar com você.

Mesmo que a terra se parta e os mares sequem.

Meu coração sempre voará em sua direção.

Como o vento, mas livre das tempestades.

Sempre seu, sempre seu...