terça-feira, 30 de setembro de 2014

Vamos para o norte.

Às vezes escrevo sobre coisas estranhas porque coisas estranhas às vezes acontecem.
Ficar no mesmo nhê, nhê, nhêim, não muda nada, mas gira, gera, pira.
Portanto: Sim!
Eu aumento, invento, distorço, torço, acrescento, mas nunca minto nem omito.
Coisa de louco!
Louco?
Como descobrir os loucos se não fizer propaganda?
Vozes ainda não ouço, porém pelo canto do olho vejo vultos em sequência.
Rondam por perto com frequência.
Como desenhos rupestres, como sombras, muito confuso, coisa estranha.
"Vós que caminhas pelo vale das sombras, onde está tua sanidade?"
"Norte"
"Vamos para o norte."

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Filho do sol.

Mãos calejadas como pedra colhem o sisal .
Por comida, um pouco de feijão de corda, palma e farinha.
O rosto trincado e sulcado já não tem expressão.
Mas os olhos, sim, seus olhos, ainda brilham por uma esperança, ele tem fé.
Pobre homem, o que espera que aconteça?
Depois de tanto sofrimento, fé em que?
Será que se tornou um vício para ele ter esperança, fé?
Não percebe que foi abandonado pela sorte e esquecido pelos homens?
Sua terra arde como brasas, mesmo assim ele ara o solo incandescente,
dia após dia.
Deixa de comer as sementes para plantá-las e as verem morrer junto com
seus sonhos.
O mínimo para ele já seria muito, mas nem isso.
Se pudesse ao menos sair dali, mas ir para onde? Fazer o que?
Para onde seus pés descalços o levariam?
Realmente não existem alternativas para o caboclo nordestino.
A única coisa que o mantem é sua esperança, sua fé, seu olhar!

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Necromante.

Agora mesmo elas estão morrendo, já faz algum tempo
que não se regeneram como antes.
É inevitável, mesmo quando durmo.
Pasmo, olho minhas mãos.
Um sentimento de medo e coragem.
Nem rico, nem pobre lhe escapa.
Realmente, lentamente, absolutamente, resigno-me.
Espero ser sensato até o fim.
Mas bate uma desconfiança, uma esperança que deus exista.
Lembranças de pecados e alegrias, tudo a condenar.
Nunca fui samaritano, breves escorregões.
Dúvidas e dúvidas, um bolo, um nó, um começo de rebeldia, mas passa.
Tudo passa rápido e sem volta.
A evidência das células mortas em meu corpo é gritante.
O envelhecer chegou.
Consequentemente a morte está mais próxima.
A lei da vida, etc....
Mas sempre fica a expectativa do desconhecido, do novo, a pergunta?
Como será? Abismos profundos cheios de monstros e torturas?
Ou a resplandecência do paraíso e a glória dos anjos.
Como será?
O que me espera?
O que te espera?
Será que vou cavalgar um cometa?
Ou simplesmente desaparecer no pó?
A natureza, em suas metamorfoses nos mostra coisas maravilhosas e inexplicáveis.
A transformação e evolução do mesmo ser.
Isso pelos nossos olhos.
Porém, pelas leis do universo, seria uma dádiva ou um castigo?
A resposta virá para cada um com a própria morte.
E morto não fala!

domingo, 21 de setembro de 2014

Brumas de pedra.

Sonhos construídos sobre a nevoa desmoronam diante da luz.
A chuva que não molha, o sol que não arde, a fome que não
sinto, tudo isso tem a ver com a sua ausência.
Às vezes lembro uma música, teu nome.
Outras de um lago profundo, teus olhos.
Um sol, teu sorriso.
Como um anjo, flutua em meus sonhos.
E faz de meu coração sua morada.
Um beijo sob as estrelas, o abraço eterno.
O calor e gosto do verdadeiro amor.
Não são apenas sonhos caídos.
Seus alicerces são profundos.
A bruma se transforma em rocha.
Pedras onde se constroem mundos.
Mas o preço da saudade são as lágrimas.
Porém se o preço da felicidade for a simplicidade, o desapego.
Então, hei de ser feliz.

sábado, 20 de setembro de 2014

Férias.

Ó, mundo cruel, às vezes até te absolvo por minhas desventuras.
Que culpa tens tu, se sou eu que não te entendo, assimilo, desvendo,
O que é tão fácil para alguns e tão complicado para outros.
Por que me lança contra inimigos tão poderosos e astutos?
O que fazer para não estar sempre encurralado?
Como ser vitorioso se o inimigo já se vangloria da minha derrota?
São tantas perguntas.
Vou procurar abrigo no clã das corujas.
Lá vou curar minhas feridas de batalha.
Estarei protegido até a próxima luta.
É o que sempre digo:
Uma semana de ferias é muito pouco!

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Homo.

Subitamente me pego pensando em você.
Instintivamente me pego desejando você.
Consequentemente um universo de moralidade cai em minha cabeça.
Não pode, não deve, isso não é correto, etc......
Então vamos mudar de assunto.
Era uma vez um pinto.....Ah, esquece.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Pródigo.


Senhor, meu Deus:
Como pode, senhor, se preocupar com esse verme, quando
há tantos que te louvam e são fiéis a ti
Que mesmo quando ando por caminhos sem volta, tu me guias em segurança
de volta ao lar.
Há sempre um abrigo para chuva, uma coberta para o frio, pão para fome.
Por que tantos cuidados comigo pai, que não sou nada e nunca  te dei
a atenção que merecia?
Por que tem paciência comigo? Que muitas vezes te culpei pelos meus
próprios erros, que em revoltas tolas te ofendi.
Por que, senhor, perde seu tempo comigo, que ando apartado de ti?
Que amor é esse que te une a mim?
Não mereço nada disso.
Sou rebelde e teimoso.
Mas sei que está sempre comigo, apesar de tudo.
Eu sigo com meus erros e defeitos.
Mas a luz começa a romper a escuridão, e a cada dia me sinto um
pouquinho mais próximo de ti.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Cavaleiro de Áries.

Subo as escadas para olhar a vastidão do meu pequeno mundo.
Lá fora prédios, carros, pessoas.
O que me lembra uma sequência de cupinzeiros.
Somos como eles: cegos.
Meu reflexo hoje está sério, já tive dias melhores.
Parece me dizer : "vá descansar, volte pra cama".
Tenho meus momentos.
Pecados antigos, grandes e pequenos.
Uma surfada no passado já basta para tomar um caldo.
Falando em caldo, a droga da caixa d`água está transbordando novamente.
Vou transformá-la num lago de gelo.
Ainda bem que posso viajar para outras dimensões e ser apenas um personagem.
Um herói, um bandido, um pirata, o que eu quiser.
Às vezes as coisas desse mundo ficam muito chatas.
Agora mesmo estão me seguindo, tentando desvendar meus segredos.
E sabe porquê não vão conseguir?
Porque eu já não estou mais aqui.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Crepúsculo.


Se houver amanhã, quero patinar em neptuno, pegar um sol em marte,
beber água da fonte, seja lá onde ficar a fonte.
Vou te levar pela mão a voar pelos morros, brincar como tolos,
descer a colina e deitar em baixo da figueira.
Só para ficar olhando pra cima, por nada, por tudo.
Ver as nuvens, pensar em nada, passar o tempo.
Comer um doce, dar um beijo, viver sem medo, falar de amor.
Sentir o vento, o perfume da figueira, o ar puro, a relva macia,
a alegria de estarmos juntos, por tudo, por nada.
Ver no teu olhar que sabe do meu amor.
E no teu sorriso, toda ternura do seu.
Se houver amanhã, quero acordar contigo, te ouvir cantar, falar, resmungar.
Coisas do cotidiano.
E no crepúsculo, estarmos juntinhos a espera de mais um dia.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Cedro.

O galo canta e anuncia: É dia!
Levanta, chacoalha, se vira, pula de alegria.
Cheiro de café da Terezinha, biscoito de nata, e queijo.
Leite de vaca no curral, fruta no pé e pescaria. É tudo maravilha.
Quero quero reclamou, gavião já passou.
O dia lindo promete, depois do trabalho tem churrasco.
Carne, cuiabana, pimenta bode e cerveja.
Tem futebol e catira, viola, truco e douradão.
A noite tem arroz com pequi, prosa, causo e mentira. Seis, ladrão!
A vida no cedro era assim: trabalho, alegria, globo rural e folia.
Voltar no tempo era tudo que eu queria.
Hoje, só restou boas lembranças, saudade, nostalgia.
O fusca não anda, papagaio não chia.
Só tem cana.