sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Túm, dúm, túm, dúm...

Túm, dúm, túm, dúm....
A porta está escancarada, à espera.
Túm, dúm, túm, dúm....
Olharam para dentro e foram embora.
Não vejo nada, não ouço nada.
Túm, dúm, túm, dúm....
Sombras deslizam nas paredes.
É agora.
Foi mal, não sinto nada.
Túm, dúm, túm, dúm....
A porta está fechada, não há vagas!
Túuuuum.....

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Hei, boi.

Chego a ficar comovido com o altruísmo e tenacidade com
que muitas e muitas pessoas defendem criminosos,
independentemente das cores de suas bandeirinhas.
Era pra acontecer assim mesmo ou alguma coisa deu errado?
Ou tudo deu errado?
Pobre daquele que vê, ouve e não crê.
Prejudica seu irmão a ganhar o pão e curar as feridas.
E só obedece aos comandos do carreiro.
E assim, ao som de engrenagens emperradas e morosas, vai
puxando a carga bruta, por caminhos nunca antes trilhados
neste país.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Game over.

De repente me vi só.
Parece que todos me abandonaram.
Cansei da luta e agora me entrego à própria sorte.
Como tantos outros, fui vencido por enxergar além dos
anos, do idealismo confuso, das demagogias estéreis, do vazio das palavras.
Coisas que parecem que só eu percebi, é frustrante.
Mas o preço será cobrado de todos nós, a vida continuará ainda mais
lenta, mais amarga.
Até que a realidade caia sobre os sonhadores, talvez não tenhamos mais
um ponto de partida, nenhuma referência.
E, como um barco a deriva, sem comida, sem água, a espera de um milagre.
Queria estar errado e ser um desses sonhadores, a ignorância me protegeria.
Mas os fatos são relevantes, marcantes, impossível passarem despercebidos.
Talvez algum dia as coisas mudem e a esperança volte.
Um filho teu não foge a luta.
Porém, hoje me sinto muito cansado e podemos descansar um pouco até
a próxima batalha.
Pois minha fé foi-se embora com meu voto.

domingo, 26 de outubro de 2014

A terra chama.

Das entranhas da terra abre-se uma fenda profunda,
escura, quilômetros de um abismo inimaginável.
Até a beira desse abismo ainda tem uma descida,
íngreme e perigosa, muitos nem ali chegam.
Estamos tentando chegar neste ponto, eu e outro ser,
para ele é mais fácil, ele tem garras.
Não sei por que estou fazendo isso juntamente com essa
criatura, parece ser mais forte que eu e ela.
Muitos tentaram essa empreitada, a prova disto são os
corpos pela trilha.
Quase cai para morte certa, muitas vezes a criatura me
salvou, o mesmo fiz por ela.
Estamos chegando.
Mais alguns hematomas e finalmente chegamos a
beira do abismo, uma plataforma gigantesca, polida e fria.
E, pela primeira vez, a criatura fala.
O que fazemos agora?
Eu respondo.
Agora nós pulamos.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Eu adolescente.

Quando te conheci, te vi tão linda que te guardei na memória
como se fosse uma flor delicada, do tipo que se quer proteger,
se quer amar.
Você se lembra de como eu era?
Tinha tanto cuidado com você, que acabava sendo um desastre,
e nós riamos disso.
Um dia te falei que quando pensava em você chegava a sentir
dores no peito, meu coração batia tão alto que eu podia ouvir
seu descompasso.
E o sangue circulando velozmente me deixava tonto, eu era
feito de hormônios.
Você me zoou uma semana inteira.
Como era bom e gostoso quando ficávamos juntos, quantas
maravilhas uma pessoa pode proporcionar a outra quando se ama,
quando se quer bem.
Ainda bem que tínhamos nossas confidências, eramos cúmplices
e nos divertíamos muito.
O mundo era feito de cores vibrantes e sons exóticos.
A discoteca estava no auge, quem não viveu nunca vai saber
realmente como era.
Lembro dos seus cabelos encaracolados, teus olhos negros,
você sempre maliciosa e de bom humor.
Puxa, te amava pra caramba.
Te chamava de chuchu, já pensou que ridículo, eu nem me
tocava, kkkkkk.
Lembra da minha variant azul, que tive de vender pra manter
minha dignidade, pois não tinha cristo que me fizesse dirigir
aquela merda
Eu até pertencia a uma banda com meus irmãos, os the hawks,
chovia garotas, só sei que meus irmãos, são músicos até hoje.
Hoje em dia me pego relembrando certas coisas de vez em quando,
algumas impublicáveis, mas acho que tudo valeu a pena, foi incrível.
Cara como foi bom ter tido dezesseis anos um dia.



segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Ironia.

O peão é bravo, corajoso.
Em cima do touro, ele roda, roda, roda.
Sua meta: em  oito segundos vencer o touro.              
Às vezes consegue.
O povo é bravo e corajoso .  
Nas mãos dos políticos, ele roda, roda ,roda.
Sua meta: em uma vida ser feliz.
Porém, os políticos não deixam.
O peão, se cair, cai com honra, mantém sua dignidade e é reconhecido.
Mas, o que resta ao povo nas mãos de políticos?
Nada.
.


domingo, 19 de outubro de 2014

Prisioneiro do tempo.

Um piscar de olhos pode levar uma eternidade ou uma fração de
segundos, tudo acaba muito rápido quando você se diverte.
Como todo mundo, estou preso a um corpo que, consequentemente,
está preso a um trabalho para sobreviver, que está preso a um
planeta para habitar.
Sempre achei demasiado longo o tempo para se ganhar o pão.
Será que era para ser assim?
Os filhos cresceram devagar, eu não vi, não me lembro.
Os momentos que me dediquei a eles foram poucos.
Claro que me arrependo, mas não tive opção.
No geral, lembro de pouca coisa sobre tudo.
Sempre trabalhei, mesmo disso, trabalho, não lembro de muita coisa,
há lapsos de tempo.
Meu filho tem vinte nove anos, tenho saudades, mas ele não
tem tempo para mim.
Minha filha, dezessete, nunca se preocupou, outra dimensão
logo vai embora, vou sentir muito.
Minha mulher e eu estamos começando a fazer planos, porém
ainda não.
Tem uma velha piada que diz:
"Quando você morrer terá todo o tempo do mundo"
Estou começando a achar essa piada um pouco sem graça.
Já pensou não ter nada agendado para os próximos cem anos?
Queria apenas uma casinha nas  montanhas, noites inteiras olhando a lua,
estrelas cadentes, ovnis.
Dormir o quanto quiser, cuidar de jardins, arvores, bichos, tudo
sem compromisso ou obrigação, só por prazer.
Tentar atingir a harmonia com o universo.
Libertar-se do tempo sem ter que morrer para isso.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

O parque.

Quisera eu explicar a mim mesmo que as contradições da vida
são apenas contradições e que ganhar a vida em certos lugares
às vezes é um privilégio.
Uma criança vindo pelo gramado batendo, displicentemente, uma
garrafa de coca-cola vazia na cabeça é só o que aparenta. Lindo!
O pássaro que come migalhas pelo chão.
Tristes migalhas.
Agora duas crianças correm, vestem rosa.
Elas sorriem.
O pássaro voltou, as migalhas acabaram.
Pombas vorazes e perigosas comeram tudo.
O gavião descobre o ninho, a mãe foge, os filhotes morrem.
O gavião tem seus próprios filhotes.
O gramado está pisado e seco, as pombas continuam a busca por comida.
O velho avarento tenta ludibriar a neta.
Pessoas que caminham falam sobre tudo.
O sol está se pondo, todos estão indo embora, vou indo também.
O parque fecha as 18:00.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Quem?

Noites insones me perseguem por toda parte.
Me acudam, bons sonhos!
Sorrisos tristes sempre antecedem um não.
As estrelas me acenam ao longe, mas são as sombras que vêm ao meu encontro.
Um pensamento ilumina meu caminho e fortalece minha empreita.
Mostra tua face.
Quero que me diga: que não sou teu filho.