sábado, 27 de agosto de 2022

Eu sou o vento.

 Eu sou a contradição sem pudor.

O errado feito do modo certo.

Sou a míngua de barriga cheia.

Sou a secura dos olhos antes da lágrima.

Sou a cabeça pendurada na sala de estar.

Sou a joia guardada na caixinha, junto com o camafeu que

não vale nada.

Sou o trigo do pão que ninguém vai comer.

Não me queiram bem, não me queiram mal, eu sou só aquele que 

anda de quarto em quarto, assustando as pessoas que tem medo do escuro!

Eu sou o vento!

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Taio.

 Me perdoa por ainda pensar em ti.

Ainda estou vivendo o tempo das feridas abertas.

Queria estar no das cicatrizes.

Perdoa, perdoa, maldita!

terça-feira, 7 de junho de 2022

Estranho amor.

Conforme eu caminho em você minha mente se turva, meus passos

se atrapalham, e eu me vejo preso em seus caprichos novamente!

Você é como o céu, e eu não sou nada.

Como sair do labirinto do seu amor, se como brumas me envolvem.

Estou perdido num paraíso de fogo.

Existe um lago, existe um barco, mas eu não quero fugir.

Quero ser um escravo eterno desse vulcão que cuspe lava e pedras.

Nem que as sombras me levem ao abismo da montanha, ainda assim, eu 

ficarei contigo.

Mas existe também um caminho de flores amarelas, que sou eu.

Que ama, que é seguro, que pode voar junto com você!

Mesmo que as nuvens não sejam favoráveis, acima delas o céu ainda é azul.

A solidão não me assusta, mas prefiro ficar com você.

Mesmo que a terra se parta e os mares sequem.

Meu coração sempre voará em sua direção.

Como o vento, mas livre das tempestades.

Sempre seu, sempre seu...














domingo, 5 de junho de 2022

Sobre mim.

Acho que se lembrarão de mim como um chato.

Pois não perdia a oportunidade de pegar no pé ninguém. 

Gostava de minhas coisas e brigava por elas.

Já me chamaram de acumulador. 

- Bobagem!

Fazia às vezes piadas sem graça e ácidas, reconheço.

Mas fazia poesias e algumas pessoas gostavam. 

Fazia também arranjos de flores que gostava muito de fazê-los.

Compus algumas músicas que nunca fizeram sucesso em lugar nenhum

do meu bairro.

Escrevi um livro que ninguém comprou, salvo minha mãe.

Dei conselhos que ninguém seguiu.

Paradoxalmente sempre me senti acolhido e querido pelos meus amigos.

Talvez refluxos de sentimentos culposos alheios, vai saber!

Nunca gostei de trabalhar, sempre trabalhei por necessidade mesmo.

Na minha cabecinha, sempre fui um artista e sempre serei!

Penso algum dia escrever minha biografia, pecados e luxúrias serão expostos.

Pessoas terão calafrios.

E não fará diferença alguma.

Pois todos nós estaremos mortos!




segunda-feira, 23 de maio de 2022

A sombra.

Estou passando em direção ao norte.

Minha alma se rasga em ventos cruzados.

Quem sou eu, senão um cisco no meio da tempestade do deserto.

Filho das monções eu sou.

Muito instável, mas necessário a vida.

Te digo que te amo.

Mas que não preciso de ti.

Mesmo que eu sofra calado, que rasteje à noite no meu quarto, 

lambendo o piso onde você andou.

Sentindo o que resta do perfume que você deixou.

Você esqueceu sua sombra aqui.

Aquela que tanto amo.

Que tanto odeio.

Que me lembra você cada segundo do meu dia.

Minha alma agora vai em direção ao leste.

Que novos ventos me levem para longe, muito longe,

de sua sombra!

Tudo isso porque ainda é noite.

E a noite é uma criança malcriada!

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Verdades secretas.

 Amores secretos que marcaram fundo, inesquecíveis e invioláveis, mas 

que acabaram por alguma bobeira fútil.

Amizades secretas, algumas furtivas e marginais, outras nobres e dignas, mas

todas acabaram num saco no fundo da mente.

Culpas secretas, de mentir e não ser descoberto, de ser verdadeiro e não ser

acolhido, de ser gentil e ter passado por rude.

Me vi sozinho, inventei outra pessoa dentro de mim, a que guarda algumas

coisas só para si.

E deixei para o mundo as mentiras secretas que todos já conhecem.

Eu, inebriado pelo teatro da vida, me surpreendo cada vez mais com seus atores.

E fico pensando: quem escreveu essa peça?

quinta-feira, 31 de março de 2022

Ao avesso

 A solidão nos leva para os confins de nós mesmos.

Noite adentro

Dia afora

Uma máquina de pensamentos tristes e piedosos.

A autocompaixão já é, por si só, vergonhosa.

A piedade alheia desnecessária me enoja.

Sinto que estou sem tempo para ocultar todas as crises

para debaixo do tapete.

Estamos tropeçando nele há muito tempo.

Estou à espera de que alienígenas venham e me levem,

me cortem, me colem e me reprogramem apenas para ser feliz.

Estou ficando velho de tanto esperar.

Vou me costurando eu mesmo.

Sinto tua falta, mas não te sigo mais, nem em ondas eletromagnéticas.

Seu toque agora corta e queima.

Minha pobre alma segue, floresta adentro no poço mais fundo, mais escuro,

caindo...caindo...

A tempestade, os vórtices se foram, ficou um imenso vazio.

Só sinto o frio que emana de mim mesmo!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Salva-me.

 Salva-me.

Uma mão, um braço ou abraço.

Leva-me.

De preferência pela mão.

Diga-me.

Por que me tornei rude?

Ajuda-me.

Não quero mais sofrer, me reinventa, me dá um choque, me põe pra andar.

Liberta-me.

Perdoa meus pecados.

Volta!


sábado, 1 de janeiro de 2022

Quando morre um amor.

Quando morre um amor 

me sinto triste,

me sinto pequeno.                

Vejo quão insignificante e impotente sou

diante da grandiosidade da vida e seus caprichos.

São apenas ciclos que se abrem e se fecham.

Coisas que completam minha apoteose, meu apocalipse.

Tudo em mim era você! 

E você se foi.

Não levou nada de mim?

Ou apenas não me quis mais?

Outro momento em um novo ciclo.

Não me toque enquanto as estrelas caem.

Minha vereda é amarga e pálida.

E, enquanto o luzeiro despenca, meu coração ainda chora.

E de poesias tristes vou vivendo, enquanto meu mundo se acaba.