domingo, 9 de abril de 2023

Gota.

 Meu orgulho, minha dignidade, foram-se.

Não me lembro mais de que eu era feito.

A dor invadiu todo o meu ser, fazendo dele sua morada.

Me transformando com suas pinças titânicas em um punhadinho

de carne e ossos.

Que de alguma forma  ainda respira e vive, mas rasteja! 

sábado, 27 de agosto de 2022

Eu sou o vento.

 Eu sou a contradição sem pudor.

O errado feito do modo certo.

Sou a míngua de barriga cheia.

Sou a secura dos olhos antes da lágrima.

Sou a cabeça pendurada na sala de estar.

Sou a joia guardada na caixinha, junto com o camafeu que

não vale nada.

Sou o trigo do pão que ninguém vai comer.

Não me queiram bem, não me queiram mal, eu sou só aquele que 

anda de quarto em quarto, assustando as pessoas que tem medo do escuro!

Eu sou o vento!

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Taio.

 Me perdoa por ainda pensar em ti.

Ainda estou vivendo o tempo das feridas abertas.

Queria estar no das cicatrizes.

Perdoa, perdoa, maldita!

terça-feira, 7 de junho de 2022

Estranho amor.

Conforme eu caminho em você minha mente se turva, meus passos

se atrapalham, e eu me vejo preso em seus caprichos novamente!

Você é como o céu, e eu não sou nada.

Como sair do labirinto do seu amor, se como brumas me envolvem.

Estou perdido num paraíso de fogo.

Existe um lago, existe um barco, mas eu não quero fugir.

Quero ser um escravo eterno desse vulcão que cuspe lava e pedras.

Nem que as sombras me levem ao abismo da montanha, ainda assim, eu 

ficarei contigo.

Mas existe também um caminho de flores amarelas, que sou eu.

Que ama, que é seguro, que pode voar junto com você!

Mesmo que as nuvens não sejam favoráveis, acima delas o céu ainda é azul.

A solidão não me assusta, mas prefiro ficar com você.

Mesmo que a terra se parta e os mares sequem.

Meu coração sempre voará em sua direção.

Como o vento, mas livre das tempestades.

Sempre seu, sempre seu...














domingo, 5 de junho de 2022

Sobre mim.

Acho que se lembrarão de mim como um chato.

Pois não perdia a oportunidade de pegar no pé ninguém. 

Gostava de minhas coisas e brigava por elas.

Já me chamaram de acumulador. 

- Bobagem!

Fazia às vezes piadas sem graça e ácidas, reconheço.

Mas fazia poesias e algumas pessoas gostavam. 

Fazia também arranjos de flores que gostava muito de fazê-los.

Compus algumas músicas que nunca fizeram sucesso em lugar nenhum

do meu bairro.

Escrevi um livro que ninguém comprou, salvo minha mãe.

Dei conselhos que ninguém seguiu.

Paradoxalmente sempre me senti acolhido e querido pelos meus amigos.

Talvez refluxos de sentimentos culposos alheios, vai saber!

Nunca gostei de trabalhar, sempre trabalhei por necessidade mesmo.

Na minha cabecinha, sempre fui um artista e sempre serei!

Penso algum dia escrever minha biografia, pecados e luxúrias serão expostos.

Pessoas terão calafrios.

E não fará diferença alguma.

Pois todos nós estaremos mortos!




segunda-feira, 23 de maio de 2022

A sombra.

Estou passando em direção ao norte.

Minha alma se rasga em ventos cruzados.

Quem sou eu, senão um cisco no meio da tempestade do deserto.

Filho das monções eu sou.

Muito instável, mas necessário a vida.

Te digo que te amo.

Mas que não preciso de ti.

Mesmo que eu sofra calado, que rasteje à noite no meu quarto, 

lambendo o piso onde você andou.

Sentindo o que resta do perfume que você deixou.

Você esqueceu sua sombra aqui.

Aquela que tanto amo.

Que tanto odeio.

Que me lembra você cada segundo do meu dia.

Minha alma agora vai em direção ao leste.

Que novos ventos me levem para longe, muito longe,

de sua sombra!

Tudo isso porque ainda é noite.

E a noite é uma criança malcriada!

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Verdades secretas.

 Amores secretos que marcaram fundo, inesquecíveis e invioláveis, mas 

que acabaram por alguma bobeira fútil.

Amizades secretas, algumas furtivas e marginais, outras nobres e dignas, mas

todas acabaram num saco no fundo da mente.

Culpas secretas, de mentir e não ser descoberto, de ser verdadeiro e não ser

acolhido, de ser gentil e ter passado por rude.

Me vi sozinho, inventei outra pessoa dentro de mim, a que guarda algumas

coisas só para si.

E deixei para o mundo as mentiras secretas que todos já conhecem.

Eu, inebriado pelo teatro da vida, me surpreendo cada vez mais com seus atores.

E fico pensando: quem escreveu essa peça?