sábado, 30 de novembro de 2013

O pensador.


Meio que quero.
Meio que não quero.
Acho que vou.
Acho que não vou.
Hesito pois existo.
Fervilho em contradições.
Então, penso, penso, penso.....

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Pequenos sírios.


O terror vem do céu.
O chão se abre e nos engole.
Estilhaços, nos ferem, cegam, matam.
Onde estão nossos pais?
O futuro não existe.
Exílio, único caminho, fome e sofrimento.
O conhecimento negado, uma juventude perdida.
Sinto muito por vocês pequenos sírios.

sábado, 23 de novembro de 2013

Palinuro.


Se você vai se amarrar ao leme do seu navio, que está dentro de uma grande tempestade, esteja certo de ter por perto uma faca bem afiada, vai que você mude de ideia.

Perda.


Diana, por ciúmes de Agenora, vendo que suas qualidades de caçadora quase se comparavam as dela, lançou a seta que tirou a vida de meu amor.
Então os céus se fecharam em forma de nuvens e caiu pesada chuva, de forma que os Deuses, vendo meu sofrimento, fizeram o seu pranto misturar-se ao meu.
Pois viram que minha dor não era merecida, que havia perdido meu amor, razão de minha vida.
E que Hades não permitiria sua volta.
Poseidon se compadecendo de mim fez subir águas que me envolveram e me levaram às profundezas do seu reino, onde fui bem recebido e confortado, e onde aguardo, até que se dê o tempo de reencontrar meu grande amor.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Taio no pé, pipa no ar.



"Dé, vamos jogar bola" - gritava a molecada. Eu tomava impulso, corria, batia o pé no meio do muro, as mãos em cima, e já estava do outro lado. O campo ficava atrás da minha casa.
Fazia sempre isso tanto para jogar bola, soltar pipa ou tirar meu irmão de alguma confusão. Ele tinha o dom de arranjar briga com garotos maiores que ele e eu, era um sufoco.
Numa dessas puladas de muro já cai com o pé em cima de um caco de vidro, a molecada quase que só andava descalça, foi um taio feio no pé. No mesmo instante já pulei o muro de volta e fui atrás de minha mãe, que pegou a bacia, aquela do banho, pôs água, sal e vinagre. E o pé ficava de molho, era lavado nesse santo remédio.
Até hoje não sei o que doía mais : o remédio ou o corte.
Fiquei mancando por mais de uma semana e ainda levei bronca.
Quando fazíamos uma pipa, tínhamos que ir no bar pedir papel de pão, que era mais fino tipo uma seda. Fazíamos a cola com farinha, a linha era outro problema, pois precisava de dinheiro, que naquele tempo era que nem Deus: todo mundo sabia que existia, mas ninguém via.
Mas depois de todos os obstáculos superados era só felicidade, quase todo mundo ia  pro campinho soltar sua pipa, jogar malha, jogar bola ou simplesmente ficar vendo o movimento e ficar conversando.
Era um meio de socialização das pessoas do nosso pequeno bairro.
Falando assim até parece uma coisa sem importância, muito simples.
Mas para quem estava lá e viveu isso, foi muito legal e não tem como esquecer. Nem quero.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Banho de bacia.


O banho de bacia era um ritual muito comum na década de setenta.
Eu digo "ritual" pois exigia toda uma preparação.
O primeiro passo era pegar água no poço, mais conhecido como cisterna ou simplesmente um buraco profundo de onde se retirava água, com uma corda amarrada em um balde.
O Segundo era esquentar essa água, a quantidade dependia do número de pessoas que iriam tomar banho. No nosso caso cinco pessoas, minha querida irmã não era nascida. Muita água era esquentada em todo tipo de recipiente, alguns inusitados, melhor nem falar.
Outro item importante era o fogão. O nosso já era a gás, acho que era um continental com aquela mangueirinha meio roxa azulada, bem vagabunda mesmo, um verdadeiro milagre aquela merda não explodir.
Após tudo isso começava o verdadeiro desafio de minha mãe: colocar a filharada pra dentro de casa.
Filharada que passou o dia inteiro brincando na rua de terra em frente de casa.
Tinha dia que minha mãe nos reconhecia pela voz, porque só aparecia o branco do olho, o resto tudo encardido de terra. Punha-nos em fila na porta do banheiro e começava o banho, água quente e água fria para temperar. Pegava o primeiro e punha dentro da bacia, jogava uma água para ir amolecendo a sujeira, depois esfregava tudo com sabão e bucha, aí com uma canequinha enxaguava e enxugava a primeira vítima, jogava o lodo da bacia fora e repetia o processo.
A grande apoteose mesmo de um banho de bacia era quando estava muito quente e nós ficávamos brincando dentro dela. Era uma bagunça e, se tinha uma coisa que eu e meus irmãos sabíamos fazer,era bagunça e sempre estávamos levando umas chineladas.
O tempo passou, inventaram o chuveiro, ligaram água e luz lá em casa e o mundo ficou lindo.
Só que apesar das dificuldades, tem momentos que sinto um pouco de saudades daquela época , só um pouco. Principalmente quando está frio.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Devoto.


Minha nossa senhora das graças, valei-me.
Estou cansado de ficar pedindo coisas à nossa senhora do perpétuo socorro.
Nossa senhora da ajuda já desistiu de mim faz tempo.
Nossa senhora dos milagres disse que tá difícil.
Nossa senhora das dores me excluiu do seu face.
Só me restou nossa senhora dos remédios.
Que Deus me ajude.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Diamante.


O tempo vem para te chamar.
O tempo vai para te levar.
O tempo fica para te ensinar.
O tempo para para você pensar.
O tempo luta contra o tempo para te salvar.
Mesmo assim nem tudo pode ser esquecido, nem tudo pode ser perdoado.
Porém o tempo ainda nos diz muita coisa.

domingo, 17 de novembro de 2013

Seguindo a correnteza.


Iludir a vida, cristalizar a alma, mascarar o caráter.
Por que agimos assim?
Bilhões de seres levando uma existência mentirosa.
Às vezes por coisas tão pequenas, ínfimas.
Por que não sermos nós mesmos? Fugir do padrão de ser o espertalhão, a lei  das vantagens, lembrando que muitos seguem esse conceito simplesmente para sobreviver, para não serem pulverizados.
Tornando tudo uma  rotina.
Me sinto cansado assistindo telejornais, fico deprimido vendo sempre as mesmas noticias sobre a decadência humana.
Até quando seremos como o rio que segue seu curso imutável até o mar?
Seremos parasitas do planeta para sempre?
Seremos indecisos, pasmos? Até quando fingiremos, até quando seguiremos a correnteza? Até quando?
Não posso continuar fingindo.
Me escondendo atrás de um sorriso falso, quando minhas lágrimas são verdadeiras, puras.
Não posso continuar dizendo coisas belas, mas sem sentido, quando a verdade é racional, direta mas machuca.
Que pensar de mim mesmo?
Que pensar das coisas, das pessoas?
Qual é o seu , o meu lugar no mundo, o que devemos e o que podemos fazer?
Certos conceitos já não fazem mais sentido.
Criar novas possibilidades, já deixei muita coisa para trás.
Talvez o que procuro esteja dentro de mim mesmo!