sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Taio no pé, pipa no ar.



"Dé, vamos jogar bola" - gritava a molecada. Eu tomava impulso, corria, batia o pé no meio do muro, as mãos em cima, e já estava do outro lado. O campo ficava atrás da minha casa.
Fazia sempre isso tanto para jogar bola, soltar pipa ou tirar meu irmão de alguma confusão. Ele tinha o dom de arranjar briga com garotos maiores que ele e eu, era um sufoco.
Numa dessas puladas de muro já cai com o pé em cima de um caco de vidro, a molecada quase que só andava descalça, foi um taio feio no pé. No mesmo instante já pulei o muro de volta e fui atrás de minha mãe, que pegou a bacia, aquela do banho, pôs água, sal e vinagre. E o pé ficava de molho, era lavado nesse santo remédio.
Até hoje não sei o que doía mais : o remédio ou o corte.
Fiquei mancando por mais de uma semana e ainda levei bronca.
Quando fazíamos uma pipa, tínhamos que ir no bar pedir papel de pão, que era mais fino tipo uma seda. Fazíamos a cola com farinha, a linha era outro problema, pois precisava de dinheiro, que naquele tempo era que nem Deus: todo mundo sabia que existia, mas ninguém via.
Mas depois de todos os obstáculos superados era só felicidade, quase todo mundo ia  pro campinho soltar sua pipa, jogar malha, jogar bola ou simplesmente ficar vendo o movimento e ficar conversando.
Era um meio de socialização das pessoas do nosso pequeno bairro.
Falando assim até parece uma coisa sem importância, muito simples.
Mas para quem estava lá e viveu isso, foi muito legal e não tem como esquecer. Nem quero.

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