domingo, 19 de outubro de 2014

Prisioneiro do tempo.

Um piscar de olhos pode levar uma eternidade ou uma fração de
segundos, tudo acaba muito rápido quando você se diverte.
Como todo mundo, estou preso a um corpo que, consequentemente,
está preso a um trabalho para sobreviver, que está preso a um
planeta para habitar.
Sempre achei demasiado longo o tempo para se ganhar o pão.
Será que era para ser assim?
Os filhos cresceram devagar, eu não vi, não me lembro.
Os momentos que me dediquei a eles foram poucos.
Claro que me arrependo, mas não tive opção.
No geral, lembro de pouca coisa sobre tudo.
Sempre trabalhei, mesmo disso, trabalho, não lembro de muita coisa,
há lapsos de tempo.
Meu filho tem vinte nove anos, tenho saudades, mas ele não
tem tempo para mim.
Minha filha, dezessete, nunca se preocupou, outra dimensão
logo vai embora, vou sentir muito.
Minha mulher e eu estamos começando a fazer planos, porém
ainda não.
Tem uma velha piada que diz:
"Quando você morrer terá todo o tempo do mundo"
Estou começando a achar essa piada um pouco sem graça.
Já pensou não ter nada agendado para os próximos cem anos?
Queria apenas uma casinha nas  montanhas, noites inteiras olhando a lua,
estrelas cadentes, ovnis.
Dormir o quanto quiser, cuidar de jardins, arvores, bichos, tudo
sem compromisso ou obrigação, só por prazer.
Tentar atingir a harmonia com o universo.
Libertar-se do tempo sem ter que morrer para isso.

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